Vida & Obra


René Descartes

René Descartes nasceu em La Haye, em 31 de março de 1596. Órfão com um ano de idade, de saúde frágil, passou a maior parte de sua infância em sua cidade natal. Com onze anos foi enviado para o colégio jesuíta de La Flèche, de onde saiu em 1615, para conhecer o mundo. Este colégio, na época, era reputado como um dos melhores colégios da França. Contudo, o espírito inquieto do jovem estudante o impulsionou para fora da academia. No seu entender, esta não ensinava propriamente a verdade das coisas, mas se contentava com a repetição dos ensinamentos dos antigos, principalmente de sua recepção no transcurso da Idade Média. É curioso que um dos pensadores que mais marca o pensamento ocidental tenha feito uma carreira à margem da universidade.

Foi com esse tipo de preocupação que o jovem, ao terminar os estudos nessa escola jesuíta, decidiu viajar pelo mundo, com o intuito de explorar outras terras e costumes, fazendo do "mundo" um objeto de leitura, como se fosse um livro, que requereria um novo tipo de análise. O mundo que então se descortinava era ainda um mundo "mágico", imprevisível, cheio de incertezas, capaz de atiçar a imaginação de um jovem pensador.

O impulso para a viagem, para a aventura, nasce de uma profunda inquietação com o tipo de ensinamento, com as formas de filosofia e de ciência reinantes naquela época. Para ele, a filosofia e a ciência estavam esclerosadas, pois tinham como ponto de referência indubitável e verdadeiro a filosofia escolástica, de cunho tomista-aristotélico, como se não mais coubesse a pergunta pela verdade de algo, de uma proposição, mas tão-somente uma disputa sobre a interpretação de "verdades" tidas por eternas. Resgatar o princípio mesmo da filosofia implicava um pensamento autônomo, livre de quaisquer amarras, e, sobretudo, livre de toda espécie de preconceito. Se cada um de nós almeja ter uma idéia verdadeira, devemos preliminarmente afastar esse tipo de pré-conhecimento, de pré-conceito, sedimentado no senso comum, impeditivo de que se possa pensar diferentemente. O senso comum de uma época, qualquer que seja, não é nem pode ser critério de verdade.

Aventura e filosofia

Engajou-se, seguindo um certo costume da época, nos exércitos de Maurício de Nassau. Descortinava-se, para ele, a possibilidade de lançar um outro olhar sobre o mundo, um olhar que procurava desprender-se daquela que tinha sido, até então, a sua experiência escolar. Isto era uma opção para a pequena nobreza que partia em busca da aventura e da novidade. Sem muitos recursos, tratava-se de uma escolha que estava ao seu alcance e se adequava perfeitamente à sua curiosidade, ao seu questionamento das coisas. Ele partiu para conhecer, no livro do mundo, o que os livros da escola não lhe tinham fornecido. Seu propósito central consistia em nada reconhecer como verdadeiro sem que, antes, tivesse passado previamente pela sua razão, pelo crivo de um procedimento metódico, baseado na dúvida e na hiperbolização dessa. Nenhuma idéia merece o qualificativo de verdadeira, se não for objeto de um questionamento radical que permita chegar a princípios, proposições primeiras, que sejam, de fato, indubitáveis.

Nas margens do Danúbio, em 1619, durante aqueles longos invernos em que não se combatia, Descartes recolheu-se à solidão de seu quarto, de sua estufa, preferindo manter-se à margem das algazarras de seus colegas de armas. Um traço psicológico seu, que o acompanhará durante toda a sua vida, consistia no apartar-se da vida social, pois, assim, podia dedicar-se à reflexão. Lá, num ato meditativo, ele recolhia-se aos seus pensamentos. O seu diagnóstico do conhecimento de seu tempo era que este tinha sido desordenadamente construído, sem um princípio condutor, como cidades que crescem aleatoriamente. O conhecimento e a ciência exigem trabalho, questionamentos sistemáticos e método. O dogmatismo é o pior companheiro da filosofia. Numa destas noites, ele teve três sonhos consecutivos, que lhe mostraram o caminho a seguir, o caminho de uma ciência universal, feita a partir de novos fundamentos. Um novo edifício seria necessário, construído a partir de sólidos alicerces, que só seriam alcançados pela elaboração de novos princípios, primeiras proposições indubitáveis. De posse deste novo método, os homens poderiam, doravante, seguir os passos seguros de uma sabedoria teórica e prática. A filosofia e a ciência, mas também a moral, apresentariam, assim, idéias e orientações seguras que balizariam o pensamento e a ação.

Tendo se desengajado do exército, Descartes procura um lugar para se estabelecer, estando decidido a seguir a via do conhecimento, ou seja, dedicar-se integralmente à filosofia. A sua escolha de vida estava feita. O livro do mundo tinha lhe aberto novos horizontes, cabia agora empreender a tarefa propriamente reflexiva, aquela que se realiza na interioridade da consciência, na razão voltada apenas para si mesma, sem entraves externos e internos, nem os oriundos dos sentidos, nem os que provêm dos preconceitos. De passagem por Paris, ele é convidado para uma reunião na casa do núncio apostólico. A filosofia, até então, se fazia em círculos restritos, os dos doutos, que compartilhavam uma mesma linguagem e preocupação. No término desta reunião, durante a discussão, ele impressiona vivamente os presentes pela sutileza dos seus argumentos e, sobretudo, pelas novas descobertas que crê estar fazendo. Não seguindo estritamente as regras da casa, ele questiona vivamente a apresentação que tinha sido feita, expondo as suas próprias idéias. Todos ficam, com ele, muito impressionados e o incentivam a seguir o caminho da filosofia e da ciência.

A agitação de Paris

Paris, no entanto, é, para ele, uma cidade muito agitada, não permitindo a um espírito como o dele viver em paz. A França era, então, o centro do mundo intelectual e político, sendo também uma potência econômica. A monarquia francesa era um exemplo para o mundo. A corte, no entanto, era para ele um empecilho, pois os hábitos dela não se adequavam aos seus. Descartes era um tipo de pessoa que pagava para não se incomodar. A tranqüilidade era um valor que colocava acima de tudo. Parte, então, para a Holanda, onde passa a viver. Esse país tinha desenvolvido a tolerância política, de modo que ele acreditava estar a salvo de qualquer tipo de sobressalto. Cauteloso, ele não fixa, contudo, residência, pois muda de morada tão logo se torna conhecido. O excesso de burburinho lhe tirava a calma que estimava necessária para o seu trabalho. A tranqüilidade e o anonimato eram a sua preocupação central.

De sua vida pessoal, sabe-se muito pouco. Até nisso, ele guardava discrição. Teve uma filha com sua governanta, Francine, que morreu aos cinco anos. Ele relata este episódio como o mais dramático de sua vida, do qual sempre se lembrará com dor. Depois, é como se a sua vida amorosa tivesse acabado. Não se tem, após, nenhuma outra notícia relevante concernente à sua vida, salvo aquelas que diziam respeito a seu itinerário filosófico e científico. Era tudo o que passou a contar para ele.

O seu espírito irrequieto preocupava-se com muitos campos de conhecimento: da filosofia propriamente dita à medicina, passando pela matemática, pela física, pela música, pela moral e pela teologia. Em todos esses campos do saber, a sua contribuição foi relevante, em alguns tendo ganhado grande destaque. Não esqueçamos que, na época, a filosofia era uma atividade que abarcava esses diferentes tipos de conhecimento. Começava-se da filosofia para chegar a outras áreas de conhecimento, pois a questão dos princípios, das condições do conhecimento, era sempre a questão primeira. A física e a medicina eram também denominadas filosofia natural. Essa denominação sobreviveu ainda dois séculos, embora, nesse período, as diferentes ciências caminhassem a passos largos rumo à independência e à construção de princípios próprios, particulares.

Obras

Em 1637, publica Discurso do método, obra inaugural da filosofia moderna, escrita em língua vulgar, isto é, o francês. Naquela época, as obras filosóficas eram escritas em latim e estavam voltadas para um público "douto", constituído do círculo exclusivo de iniciados às questões propriamente filosóficas. Descartes tinha, porém, um outro propósito, o de alcançar um amplo público, ou seja, todas as pessoas dotadas de "bom senso" ou "razão", de tal maneira que os assuntos humanos em geral estivessem ao alcance de cada um. Na verdade, antes de Kant, ele propugnava por um uso público da razão.

E esse uso público da razão não admitia discriminações ou limitações de gênero. As mulheres, até então, não eram consideradas seres racionais no sentido completo do termo. Elas não eram interlocutoras do ponto de vista filosófico, da razão. Descartes tinha entre suas interlocutoras preferidas a princesa Elisabeth, da Alemanha, com a qual teve uma profícua correspondência filosófica. Ele a considerava um ser particularmente bem dotado racionalmente, superior a seus companheiros doutos, imersos que estavam, no seu entender, em preconceitos. Uma pessoa sem preconceitos era ideal para um pensador que começava filosoficamente com um "discurso do método". O novo discurso vem acompanhado da afirmação da igualdade de gênero entre os sexos.

E como se tratava de um "discurso do método", a sua preocupação central residia no como conhecemos, no como podemos ter acesso a idéias verdadeiras, que fossem imunes ao erro, quando perseguidas segundo um procedimento metódico, sistemático. Ele se voltava contra todo pré-conhecimento, todo pré-conceito, pois a maneira mediante a qual pensamos nos induz freqüentemente ao erro, à falsidade, à mera aceitação do senso comum, daquelas idéias que foram sedimentadas no nosso modo habitual de pensar. Descartes propugnava por um pensamento jovem, aberto à crítica e aos questionamentos, capaz de exercer uma dúvida cética e de resistir à mesma dúvida graças a uma razão aberta ao questionamento de seus próprios princípios. Ele lutava, portanto, por um mundo onde a fé não ordenasse as relações humanas, mas ficasse confinada a um lugar específico, ao do culto de cada um, não invadindo as esferas dos costumes, da política, da filosofia e da ciência em geral. Moderno, ele defendia a idéia de que a razão deveria permear todos os domínios da vida humana, numa atividade libertadora, pois voltada contra as mais diversas formas de dogmatismo.

Em 1641, aparece o livro Meditações metafísicas, outra grande obra de Descartes. Agora, ele escreve em latim, escolhendo como interlocutores a parte mais "letrada" da sociedade, aquela que se mostraria mais refratária às suas idéias. Para ser admitida nos meios escolares, universitários e religiosos, era fundamental que sua filosofia pudesse ser aceita nesse meio. Ademais, o desenvolvimento da ciência também dependia dessa aprovação. Neste livro, ele vai se defrontar com as grandes questões da Filosofia primeira, aplicando seu método ao conhecimento de Deus e à demonstração da imortalidade da alma, mediante a separação da existência desta como diferente da do corpo. Se o pensamento é uma propriedade essencial da alma, enquanto a extensão é do corpo, então um pode existir sem o outro. Sua demonstração é eminentemente lógica, procedendo passo a passo, de tal maneira que uma propriedade, o pensamento, é demonstrada como exclusiva da alma. Para ele, mente, espírito, alma e razão são palavras de mesma significação. Segue-se, então, um tipo de existência distinta daquela que se oriunda do corpo, uma forma de existência das idéias e dos pensamentos. O corpo, por sua vez, será conhecido pela extensão, sendo que essa propriedade não poderá ser aplicada à alma. Logo, segue-se um outro tipo de existência, o que conhecemos comumente como material.

Nesta obra, Descartes aprofunda as suas provas da existência de Deus, tornando o ser divino uma idéia que pode ser explorada racionalmente. E quando dizemos prova racional da existência de Deus, insistamos no termo racional, pois ela independe da fé que um indivíduo possa ou não ter. Basta que ele ponha a sua razão a funcionar para alcançar a mesma conclusão. Até um ateu pode, então, provar a existência de Deus. A contrapartida dessa formulação é que a razão começa a entrar no terreno exclusivo da teologia, em particular de uma teologia revelada ou dogmática. A razão já não admite limites, senão aqueles que ela mesma se dá. Essa disciplina chamar-se-á Teologia natural ou Filosofia primeira. Os objetos da religião, as crenças e os dogmas, e os princípios teológicos serão submetidos a uma avaliação racional. Nada mais será, doravante, considerado como sagrado. A razão não conhece mais limites e se aventura, inclusive, a conhecer a essência de Deus. A desmedida da razão constituirá doravante o cotidiano da filosofia, da ciência e de uma nova forma de sociedade.

Este livro apresenta um aspecto culturalmente muito curioso, pois a sua publicação foi acompanhada de Objeções e Respostas de espíritos tão eminentes como Caterus, Mersenne, Hobbes, Arnauld e Gassendi. A obra já veio enriquecida de um debate com interlocutores, que não escondiam sua simpatia ou antipatia para com essas idéias e seu autor. Um agostiniano como Arnauld a considera uma obra maior, pois conseguiu provar como nenhuma outra a existência de Deus, abrindo caminho para a conversão dos ateus e incrédulos. Um "materialista matemático" como Hobbes questiona profundamente os seus pressupostos, pois o verdadeiro início da filosofia consiste na análise que siga o método galilaico dos corpos físicos e de suas formas de movimento. Aliás, a antipatia mútua entre Descartes e Hobbes durará até a morte de ambos. Um considera o outro como sempre "errando" filosoficamente. De qualquer maneira, as Objeções e Respostas possibilitaram uma discussão ampla e enriquecedora do texto cartesiano. Trata-se de um traço decisivo para a filosofia em geral a séria discussão, em função de argumentos, das posições de cada um, valendo o confronto das idéias.

Paixões da alma é outro dos seus livros. O seu objeto são as paixões, os sentimentos, aquilo que o homem sente e pensa na sua condição de estar no mundo. Aqui, fala-se do homem propriamente dito, onde se conjugam as duas formas de existência, a da alma e a do corpo. O homem em situação, com seus sentimentos e sensações, é objeto desse texto, onde vemos atuantes conceitos que estimaríamos como morais. Estando a alma indissociavelmente unida ao corpo, não sendo ela como um "piloto alojado em seu navio", coloca-se a questão de como deve agir o homem virtuoso respondendo às paixões de seu corpo.

Descartes publica ainda Princípios de filosofia, onde expõe toda a sua filosofia, visando torná-la um manual a ser utilizado nos colégios jesuítas. Aqui, temos um outro Descartes, preocupado com o seu sucesso no mundo, tendo escrito um manual com propósito escolar. A elaboração de manuais, diríamos hoje livros didáticos, tem uma preocupação voltada para a divulgação e apresentação de idéias, e não para sua pesquisa propriamente dita. O manual apresenta a filosofia sistematizada e acessível para um grande público. Ademais, tendo feito esse "compêndio", nosso filósofo se mostra particularmente atento às repercussões de seu pensamento, aos seus efeitos junto às mentes jovens e, sobretudo, aos seus colegas. Na verdade, ele pensa que, com esse livro, os manuais aristotélico-tomistas seriam substituídos. A sua filosofia se mostraria, então, como a verdadeira filosofia. Qual não foi a sua decepção quando os seus antigos amigos jesuítas reagiram desfavoravelmente às suas intenções.

O fim

O seu renome é grande. A filosofia cartesiana impõe-se como a nova filosofia, inaugurando o pensamento moderno. Aquilo que consideramos o "racionalismo" encontra neste filósofo uma de suas grandes expressões. Em que pese o seu desejo de solidão, ele é muito requisitado. Hesitando em aceitar um convite, o da rainha Cristina da Suécia, ele termina por embarcar para este país. O seu pensamento é particularmente admirado por essa rainha. Apesar da honra que lhe era concedida, a viagem foi várias vezes postergada e quase anulada. Ao embarcar, nosso filósofo não deixou de sentir um certo desconforto. Os rigores do inverno sueco, com efeito, não lhe fizeram bem. A rainha tinha, ademais, o estranho hábito de recebê-lo de madrugada para suas tertúlias filosóficas. Numa dessas reuniões, Descartes contrai uma pneumonia que lhe será fatal. O seu organismo foi ainda mais debilitado por ter sofrido uma sangria, então um método médico muito utilizado. Seja dito de passagem que ele não acreditava neste tipo de procedimento, porém terminou anuindo a ele, apressando, dessa maneira, o fim de seus dias. Ele morre em Estocolmo, em 1650.

Depois de sua morte, a sua correspondência começou a ser publicada por seus amigos e admiradores. Nela, ele falava mais livremente sobre grandes questões filosóficas e teológicas, sem a preocupação com a censura e a Igreja. Suas posições teológicas não foram, porém, do agrado geral, pois a razão entrava, mais profundamente, na análise de dogmas religiosos como o da eucaristia e o da criação do mundo segundo a Bíblia. Sua intenção não deixava de ser ousada, pois ele procurava compatibilizar a sua teoria da criação do mundo com a da Bíblia. O desagrado nos setores da hierarquia católica foi grande. Aqueles que o apoiam já haviam morrido e a sua discrição tinha sido posta de lado. No ano de 1663, uma parte de seus livros entra no Index da Igreja, sendo proibida. A razão alegada foram os seus exercícios metafísicos em assuntos religiosos e teológicos.

Cronologia

1596 (31 de março) – Nascimento de René Descartes em La Haye, na província francesa de Touraine (hoje, essa comuna da região do Indre-et-Loire chama-se Descartes). O pai é conselheiro no parlamento da Bretanha. A mãe morre um ano após seu nascimento. Descartes é educado em La Haye pela avó.

1607-1615 – Estudos no colégio La Flèche, dos jesuítas, fundado em 1604 por Henrique IV.

1611– Por ocasião de uma cerimônia, é lido no La Flèche um poema seu que relata a observação por Galileu dos satélites de Júpiter.

1616 (9 e 10 de novembro) – Bacharelado e licenciatura em direito, em Poitiers (as teses foram redescobertas em 1986, em Poitiers).

1618 – Descartes junta-se ao exército de Maurício de Nassau, em Breda, onde irá conhecer Isaac Beeckman. Trabalhos de matemática, de música (Compendium musicae), de hidrostática e de física geral.

1619 – Viagem pela Alemanha, passando pela Dinamarca. Descartes assiste à coroação do imperador Fernando II em Frankfurt. Três sonhos, datados de 10 de novembro, revelam a Descartes os "fundamentos de uma ciência admirável"; projetos de uma reforma do saber, especialmente em matemática (classificação das curvas), expostos em cartas a Isaac Beeckman.

1620-1625 – Viagens pela França e pela Itália. Em 1621, Descartes abandona o exército. Nesse período empreende vários tratados, dos quais restam apenas algumas anotações.

1625-1627 – Temporada em Paris, onde Descartes faz amizade com Mersenne, Guez de Balzac, além de vários estudiosos, engenheiros e teólogos. Em novembro de 1627, assiste na casa do núncio do papa a uma conferência de Chandoux, que professa uma filosofia nova, e fica conhecendo o cardeal Bérulle, a quem expõe uma "regra universal" ou "método natural".

1627-1628 – Viagem à Bretanha e às Províncias Unidas (a atual Holanda), onde se instala. Supõe-se geralmente que a composição de Regulae ad directionem ingenii (Regras para a direção do espírito), que ficaram inacabadas, remonta a esse período.

1629 (26 de abril) – Descartes se inscreve na universidade de Franeker, na Frísia. Empreende durante o ano um Tratado de metafísica, que interrompe para o estudo dos meteoros. Paralelamente, interessa-se pela manufatura dos vidros. Instala-se em Amsterdã, no outono, e começa a fazer dissecções com o médico Plemp. Empreende uma física completa, que será Tratado do mundo (juntamente com Tratado do homem).

1630 – Inscrição na universidade de Leyde (27 de junho). Encontro com o matemático Golius, que lhe irá propor, como a outros matemáticos da época, o problema dito de Pappus. Descartes envia sua solução em janeiro de 1632.

1633 – Condenação de Galileu em Roma. Descartes abandona pouco depois seu projeto de publicar, em vida, Tratado do mundo.

1633-1636 – Temporada em Amsterdã. Nascimento, em 1635, da filha Francine (que morrerá em 1640), cuja mãe, Hélène, é uma empregada doméstica. Temporada em Utrecht, no verão de 1635. Descartes se instala em Leyde, na primavera de 1636, para fazer imprimir e terminar a redação de Discurso do método e de Ensaios (Dióptrica, Meteoros e Geometria).

1637 (8 de junho) – Término da impressão da obra. Descartes oferece a Huygens, em outubro, uma carta sobre a Mecânica (Explicação das máquinas com a ajuda das quais se pode com uma pequena força erguer um fardo muito pesado).

1639-1640 – Redação de Meditationes de prima philosophia. Mersenne recolhe objeções junto a filósofos e teólogos.

1640 – Participação na querela matemática de Stampioen e de Waessenaer, relativa à extração da raiz cúbica dos binômios. Morte do pai de Descartes, em 17 de outubro.

1641 – Publicação em Paris de Meditationes de prima philosophia qua Dei existentia et animae immortalitas demonstratur (Meditações de filosofia primeira em que são demonstradas a existência de Deus e a imortalidade da alma), terminadas de imprimir em 28 de agosto de 1641. Descartes se instala em Endegeest, próximo a Leyde, onde ficará até abril de 1643.

1642 – Início da querela de Utrecht. Descartes defende Regius contra Voetius, reitor da universidade de Utrecht. Condenação, em 15 de março de 1642, da nova filosofia pelos magistrados de Utrecht. Essa querela irá durar até 1648.

1643 – Martin Shoock, partidário de Voetius, publica seu Admiranda Methodus, que afirma, em conclusão, que a filosofia cartesiana conduz ao ceticismo, ao ateísmo e à loucura. Descartes publica uma Carta a Voetius. Início da correspondência com a princesa Elisabeth.

1644 – Temporada na França. Publicação de Principia philosophiae, acompanhando a tradução latina de Discurso, Dióptrica e Os meteoros (Geometria só será traduzida em latim em 1649).

1645-1646 – Descartes empreende um tratado sobre as paixões da alma, a pedido de Elisabeth.

1647– Publicação em Paris de Meditações metafísicas, traduzidas pelo duque de Luynes. As objeções e as respostas, abreviadas, são traduzidas por Clerselier. Publicação, no verão, de Princípios da filosofia, traduzidos pelo abade Picot, e acompanhados de uma carta-prefácio ao tradutor. De junho a novembro, temporada na França.

1647-1648 – Redação de Descrição do corpo humano.

1648 Carta apologética aos magistrados de Utrecht. Texto polêmico contra Regius, seu ex-discípulo. Conversa com F. Burman, que será reunida em notas e publicada no século 20. De maio a agosto, Descartes faz mais uma temporada na França. Morte de Mersenne, em setembro.

1649 (setembro) – Às instâncias da rainha Cristina, Descartes resolve reunir-se à corte de Estocolmo, onde suas lições são programadas para as cinco horas da manhã. Publicação, em novembro, de Paixões da alma.

1650 (11 de fevereiro) – Descartes morre de pneumonia em Estocolmo. O inventário dos papéis por ele deixados contém a menção de textos cujo teor exato e a data são incertos. Entre os inéditos, Compendium Musicae é publicado já em 1650; três volumes de cartas, em 1657, 1659 e 1667; a tradução latina de O homem,em 1662, e o original francês, em 1664; O mundo ou tratado da luz, em 1664, e, em 1701, Regulae. Desde o século 17 publicam-se traduções, em inglês e em holandês principalmente, que aparecem às vezes antes dos originais.

Fonte: introdução de Denis Lerrer Rosenfield para Discurso do método

Mais livros de René Descartes


Opinião do Leitor

Ana Beatriz da Silva
Itapevi

Achei muita legal a vida deste filosofo. eu adoro este site. Ótimo para pesquisar sobre conhecimentos. Obrigado e beijos, até o próximo comentário.

08/06/2015

Agatha

Wallison Silva Barbosa
Pindaré Mirim/Maranhão

Esse foi um texto bem produzido e fundamentado, eu adorei.

21/05/2014 14:23:09