Vida & Obra


Raymond Chandler

Raymond Chandler foi uma das grandes personalidades da literatura americana do século XX. Pontificou no gênero policial noir, uma vertente, digamos assim, mais intimista e realista do que aquele tipo de literatura de “crime e mistério” que surgiu com Poe, Conan Doyle e Chesterton e que teve seguidores célebres como Agatha Christie, Ruth Rendell, Rex Stout e, de certa forma, Georges Simenon. Chandler e seu mestre Dashiell Hammett desprezavam esta comparação. Seus romances não tinham como elemento-chave o investigador superarguto e suas deduções geniais. Em vez de um elegante Hercule Poirot, de um curioso Padre Brown, um impressionante Sherlock ou seu pai literário, o inspetor Dupin, de Poe, encontramos homens comuns (ou quase) tentando ganhar a vida trabalhando por “25 dólares por dia mais despesas”.

Philip Marlowe, o fascinante detetive de Chandler, figurou em oito romances como protagonista de tramas complicadas, numa época difícil, nos Estados Unidos em plena pós-recessão, um país cheio de incertezas e uma legião losers andando pelas ruas em busca de um meio para sobreviver. Philip Marlowe, como o detetive Sam Spade, de Hammett, são frutos deste país em crise, onde a construção da futura maior nação capitalista do mundo convivia com hordas de desempregados e aventureiros lutando pela vida. São homens da cidade, habituados a tensões e à violência. Seus clientes seguidamente freqüentam o mesmo círculo social e sua atuação nada tem de “genial” no que diz respeito à sagacidade e à técnica investigativa. Marlowe é um cara durão. Aliás esta tradução de “tough guy” é um achado dos primeiros tradutores de Chandler, Hammett e seus companheiros da literatura noir. E tornou-se comum a todos os romances, sendo quase uma marca registrada do gênero. Os “durões” agüentavam porrada, toda a sorte de enrascadas, mas, no fundo, eram uns sentimentais. E, além disso, conviviam mal com os tiras que estavam sempre no seu pé. Aliás o magnífico O longo adeus, de Chandler – sua obra-prima –, finaliza dizendo que “só os tiras não dizem adeus”. Eles estão sempre lá, às vezes de favor, mas quase sempre prontos para impedir ou prejudicar as investigações privadas. Tiras não gostam de detetives particulares.

Parafraseando Nelson Rodrigues, pode-se dizer que nestes romances está “a vida como ela é”. Os crimes, quando existem, são tão factíveis que nos dão a impressão de que são tirados dos tablóides populares. Ou seja, são fruto do lado obscuro do cotidiano em vivemos. E os personagens andam no limiar daquilo que é legalmente aceitável. No caso de Chandler, temos um interessante retrato da Califórnia em meados do século XX. Los Angeles já é a meca do cinema, e freqüentemente atores de segunda categoria, produtores fracassados, convivem com gângsteres, prostitutas de luxo, tiras corruptos, atrizes decadentes e figurões em busca de uma oportunidade para ganhar um bom dinheiro, seja limpo ou não. Se em O longo adeus temos um inesquecível livro sobre a amizade e a lealdade, em Adeus, minha adorada, A dama do lago e A irmãzinha temos mulheres que acenam com histórias impossíveis, mas que geralmente balançam o melancólico Marlowe, homem de coração endurecido e esperanças roubadas pelas vicissitudes da vida. Sempre há uma mansão em Palm Beach, ou Malibu. Sempre há um cliente recusado que volta uma, duas vezes, até que convence o sentimental Marlowe a aceitar o caso. E ele sempre pensa “eu não devia fazer isso”. E sempre acaba se arrependendo. Irônico, homem de poucas palavras, como convém a um “tough guy”, o cínico Marlowe vai recolhendo material para desacreditar o gênero humano. E o fascinante é que ele sempre tem uma recaída. Chandler consegue deixar uma fresta de humanismo que faz com que seu detetive cure a ressaca de gimlet ou bourbon e a contragosto faça a barba e volte para seu poeirento e antiquado escritório onde o telefone toca muito raramente.

Raymond Chandler nasceu em Illinois, em 1888. Depois do divórcio dos pais, em 1896, foi morar com a mãe em Londres. Jamais voltou a ver o pai. Criado na Inglaterra, seguiu sendo cidadão americano, embora sua mãe tenha se naturalizado inglesa. Voltou para os EUA em 1912 e na Primeira Grande Guerra serviu nas forças canadenses e na britânica Royal Air Force. Tentou ser jornalista, empresário, detetive e até executivo de uma companhia de petróleo. Desenvolveu o gosto pela literatura e devorou livros durante a vida inteira. Em 1933, com 45 anos, conseguiu publicar seu primeiro conto na célebre revista Black Mask. Imediatamente foi considerado um bom escritor, e seus contos passaram a fazer muito sucesso entre os iniciados na literatura noir. Seu primeiro livro, O sono eterno, foi publicado em 1939. Nele, o protagonista já era Philip Marlowe, cujo caráter e personalidade foram desenvolvidos sob várias identidades em seus contos. A seguir publicou os romances Adeus, minha adorada (1940), Janela para a morte (1942), A dama do lago (1943), A irmãzinha (1949), O longo adeus (1953) e Playback (1958). Deixou inacabada a novela Amor e morte em Poodle Springs, que foi concluída pelo escritor Robert Parker com a permissão da família e publicada em 1989. Seus contos foram recolhidos e publicados em dois grandes volumes A simples arte de matar (na Coleção L&PM POCKET, em dois volumes) e Assassino na chuva. Escreveu roteiros para Hollywood e teve todos os seus livros adaptados para o cinema, em filmes nos quais trabalharam grandes astros e estrelas de Hollywood, como Humphrey Bogart, Lauren Bacall, Robert Mitchum, Charlotte Rampling, James Stewart, Robert Montgomery, James Gardner, Elliot Gould, entre muitos outros. Tornou-se alcoólatra após a morte de sua mulher, em 1956, e morreu em Los Angeles em 26 de março de 1959, consagrado como um dos maiores escritores americanos de todos os tempos.

Texto de Ivan Pinheiro Machado

Mais livros de Raymond Chandler


Opinião do Leitor

Victor Henrique
minas gerais

Tenho toda a coleção de Raymond Chandler publicada pela editora L&PM Pocket, são meus livros prediletos, recomendo a todos que comprem que será uma leitura prazerosa e enriquecedora,agregando muito conhecimento.

04/08/2012

Agatha

Marcelo Victor

A L&PM Pocket está de parabéns pelo excelente trabalho e livros publicados. Eu sou muito fã dos seus livros, pricipalmente das autorias de Shakespeare, adoro. O primeiro livro que eu li dele foi Otelo, e daí me apaixonei. Estava lendo Romeu e Julieta mas infelizmente não tive tempo de terminar pois a biblioteca que tinha perto da minha casa fechou, aí tive que devolver o livro. Outro autor muito bom que eu gosto é Raymond Chandler, li O longo adeus e me apaixonei tambem. Muito obrigado pelo excelente trabalho que vocês prestam ao seu leitores.

09/07/2009 11:41:08