Filho de Jolyot Prosper Crébillon, em seus tempos considerado o rival de Voltaire, Claude Prosper, o Crébillon Fils, nunca contou muito com a aprovação do pai. Fosse por sua vida de boêmio inarredável – rébillon Fils fundou a Societé du Cal eau, Sociedade da Taberna, um café onde ele e seus companheiros jogavam conversa fora –, fosse por sua obra picante, que lhe valeu dois exílios de Paris, o filho não parecia ter puxado nada do pai austero, quase asceta. Mas ambos tinham em comum algo mais, bem mais, que a proteção de Madame Pompadour. Cada qual a seu modo, foram excêntricos moralistas. No caso do filho, a arma foi a sátira: seus escritos licenciosos concluem por um aparente paradoxo, o da superioridade da virtude sobre a libertinagem. Entenda-se, aqui, e a cada fábula que compõe esta grande fábula que é O Sofá, a superioridade da natureza (rousseauisticamente boa) sobre as perversões da vida cortesã. Crébillon não fica só caçoando da hipocrisia e dos códigos de decência (aqueles tanto mais aperfeiçoados quanto mais dissimulam, e estimulam na clandestinidade, as obscenidades) isso, a maioria dos autores do século XVIII também faz. Tal qual um ingênuo libertino, ele coleciona todas as imprudências, imposturas e devassidões para demonstrar, ao final, que só vale a pena... o amor. É o caso do narrador deste livro: metamorfoseado em sofá, e condenado a assistir sobre ele todo tipo de lubricidade, só é libertado quando, finalmente, se ajeita em seus flancos o casal perfeito vale dizer, puramente enamorado. O desfecho é surpreendente. Mas antes de chegar nele, o leitor vai acompanhar uma de suas mais deliciosas máximas, a de que o libertino é, antes de tudo, um impotente. Porque persegue tudo, menos seu próprio prazer: escravo da opinião pública, tiranizado pelas exigências mundanas e convenções sociais, o destino do libertino é o fiasco. Como todo o moralista, Crébillon sabe que o apego demasiado à própria imagem é o atalho mais curto para a estupidez.
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