A busca humana pela felicidade
“Tomo aqui o conceito de sabedoria de vida num sentido totalmente imanente, a saber, o da arte de conduzir a vida da maneira mais agradável e feliz possível [...].”
Arthur Schopenhauer é um dos mais importantes nomes da filosofia em língua alemã, junto com Kant, Hegel, Nietzsche e Wittgenstein. Embora muitas vezes considerado um pensador “pessimista”, seus estudos sobre a filosofia oriental possibilitaram-lhe uma visão até então inédita da existência humana: a dor e o tédio são, para ele, os dois polos entre os quais oscilamos do nascimento à morte. Para se ter uma vivência feliz e agradável, portanto, é preciso constantemente equilibrar-se entre esses dois extremos.
Em Aforismos para a sabedoria de vida (1851), Schopenhauer discorre, na linguagem límpida que o caracteriza, sobre os elementos principais da existência, demonstrando que a validade de tal visão de vida não apenas perdura até hoje como parece se fortalecer cada vez mais.
A felicidade moral
Mais de trinta anos após lançar as bases de sua filosofia em "O mundo como vontade e representação", Arthur Schopenhauer tornou-se conhecido por Parerga e paralipomena (1851). Deste vasto tratado de mais de mil páginas contendo aquilo que o próprio autor chamou de “escritos esparsos”, Aforismos para a sabedoria de vida compõe o segundo quarto. Nestes ensaios, o pensador se dirige ao leitor com uma linguagem clara e acessível, deixando de lado terminologias filosóficas, para refletir sobre os principais fatores que influenciam a busca humana pela “boa vida” – uma existência agradável e moralmente justa.
Composto por capítulos como “Daquilo que se é”, “Daquilo que se tem”, “Daquilo que se representa”, “Da diferença entre as idades”, o autor – um dos introdutores da filosofia oriental e budista aos pensadores europeus – discorre sobre a amizade, a simplicidade, a felicidade, a vida, a morte, a honra, sempre com um olhar sereno e estável. Em vez de defender o valor absoluto da razão, postula o indivíduo como o próprio detentor dos meios de se chegar à felicidade, afirmando-se, portanto, como um pensador eminentemente humanista. “Aquilo que alguém é e tem em si mesmo, em suma: a personalidade e o valor, é o único fator imediato para sua felicidade e seu bem-estar”. Chega mesmo a antecipar noções futuras de psicologia e, em seu estilo lapidar e cristalino, propôs ideias hoje correntes: “[...] não é sem razão que nos perguntamos, antes de qualquer outra coisa, pelo estado de saúde uns dos outros e desejamos mutuamente nosso bem-estar: pois esse é com efeito de longe o elemento mais importante para a felicidade humana. [...] a maior de todas as tolices é sacrificar a própria saúde pelo que quer que seja, pelo emprego, pela erudição, pela fama, e tanto mais por volúpia e prazeres efêmeros: pelo contrário, deve-se priorizá-la em face de tudo o mais”.
Aqui está, em toda sua exuberância, a sabedoria daquele que, admitindo a ausência de Deus e o sofrimento intrínseco à experiência humana, enxergava na reflexão, na arte e na conduta moral os grandes trunfos da humanidade, influenciando todos os pensadores posteriores.
Os Editores
Arthur Schopenhauer (1788-1860) nasceu em Gdansk (então Prússia, atual Polônia), numa família de respeitáveis comerciantes de origem holandesa. Após o suicídio do pai, começou a estudar medicina e ciências na universidade de Göttingen e, posteriormente, filosofia. Em 1811 mudou-se para Berlim a fim de escrever sua tese de doutorado e lá iniciou a redação de O mundo como vontade e representação, terminado em 1818 e publicado no ano seguinte, que reúne o núcleo de sua metafísica. Na época a obra teve pouca repercussão, mas em 1844 foi lançada uma edição expandida. Tornou- se conhecido com a publicação de Parerga e paralipomena, que reúne diálogos, ensaios e máximas. Após sua morte, O mundo passou a ser considerada uma das obras-chave da filosofia ocidental.
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