Vida & Obra


Jean-Paul Sartre

Nasceu em 21 de junho de 1905 em Paris, filho de Jean-Baptiste Sartre, oficial da Marinha, e Anne-Marie Schweitzer, oriunda de uma família de intelectuais alsacianos. Jean-Baptiste morreu de febre amarela quando o filho tinha quinze meses. O avô, Charles Schweitzer, um professor de alemão, introduziu o neto, ainda criança, à literatura clássica. Em 1917, Anne-Marie casou-se novamente, mas Sartre nunca aprendeu a gostar do padrasto. Mudaram-se para La Rochelle, onde Sartre viveu dos doze aos quinze anos. Em 1921, doente, foi enviado a Paris, onde sua mãe decidiu mantê-lo, para o bem da sua educação. Interessou-se por filosofia ainda adolescente. Estudou no célebre Liceu Henri IV, onde fez amizade com Paul Nizan (que morreria precocemente na Segunda Guerra Mundial). Passou pelo Liceu Louis le Grand e fez os estudos superiores na École Normale Supérieure de Paris, onde formaram-se vários pensadores franceses proeminentes. Foi influenciado pelas idéias de Kant, Hegel e Heidegger.

Em 1929, conheceu Simone de Beauvoir (1908-1986), futura filósofa, escritora e feminista com quem teria um relacionamento amoroso e intelectual que se tornaria célebre pelo modernismo (não eram monógamos, nunca foram formalmente casados e moraram separados a maior parte de suas vidas) e que duraria até a morte do filósofo. Ela, como Sartre, era oriunda de uma família pequeno-burguesa e rejeitava este modelo de vida. Nesse mesmo ano ele obteve o diploma de doutor em filosofia e foi recrutado pelo exército francês.

Em 1931, passou a lecionar no Liceu do Havre. Sua experiência como professor mostrou-se gratificante: era um mestre caloroso, entusiasta e dedicado; manteria uma relação próxima com a juventude durante toda a vida.

Passou um período em Berlim, de 1933 a 1934, onde completou sua educação sobre a fenomenologia de Husserl. Iniciava-se uma boa fase: publicou em 1938 La nausée (A náusea), romance sobre um professor do interior que é o manifesto literário do existencialismo, corrente filosófica segundo a qual, para Sartre, as nossas idéias são produtos de experiências da vida real, a existência precede a essência, e o homem é livre para projetar a própria vida.

Segue-se a publicação da coletânea de contos Le mur (O muro), em 1939.Com o início da guerra, Sartre foi chamado a servir no exército francês como meteorologista. Tropas alemãs capturaram-no em 1940, e ele passou nove meses na prisão. Ali escreveu sua primeira peça teatral, Barionà, fils du tonnerre, e a encenou para diversão dos colegas de cárcere. Foi libertado em 1941 sob alegação de má saúde. Retomou o cargo de professor no Liceu Pasteur e posteriormente no Liceu Condorcet. Ainda em 1941, foi co-fundador do grupo de resistência Socialismo e Liberdade, junto com Simone de Beauvoir, Merleau-Ponty e outros. O grupo desapareceu no final do ano, após a prisão de dois dos seus membros. Em 1943, publicou L’être et le néant (O ser e o nada), sua principal obra filosófica, e a peça Les mouches (As moscas) – um fracasso de público. Em 1944, uma nova peça, Huis clos (Entre quatro paredes), obteve enorme sucesso. Ao mesmo tempo escrevia para revistas literárias, legais e clandestinas. Após a liberação de Paris, ainda em 1944, contribuiu ativamente para o periódico Le combat (O combate), fundado no período da clandestinidade por Albert Camus, filósofo e escritor que nutria ideais semelhantes aos de Sartre. Simone de Beauvoir e Sartre foram amigos íntimos de Camus até 1951, quando este publicou Le rebel (O homem revoltado) e se afastou das idéias comunistas. Após o fim da guerra, Sartre fundou, em 1945, Les temps modernes, uma revista mensal, publicada pela prestigiosa editora Gallimard e existente até hoje. É desse mesmo ano a palestra, posteriormente editada em livro, L’éxistencialisme est un humanisme (O existencialismo é um humanismo). Escreveu muito nesse período, principalmente Les chemins de liberté (Os caminhos da liberdade), trilogia romanesca que compreende L’âge de la raison (A idade da razão), de 1945, Le sursis (Sursis), de 1947, e La mort dans l’âme (Com a morte na alma), de 1949, na qual reflete sobre a experiência da guerra. A peça Les mains sales (As mãos sujas), de 1948, explora o conflito entre ser um intelectual e ser politicamente ativo.

Nesse ano a Igreja Católica colocou toda a obra de Sartre no índex. Embora ele nunca tenha se filiado ao Partido Comunista, abraçou o comunismo e também o stalinismo (em 1956, o ataque de tanques russos contra protestos húngaros o levou a crer que era possível um proletariado fora do partido). Foi um dos principais defensores da guerra da independência argelina (1958 a 1962), e em 1962, a Organização do Exército Secreto, que reunia partidários da presença francesa na Argélia, realizou um atentado a bomba à casa do filósofo. O trabalho mais emblemático desse período é Critique de la raison dialectique (Crítica à razão dialética), de 1960. Em 1964, Sartre despediu-se da literatura, publicando um irônico livro de memórias, Les mots (As palavras). No mesmo ano, foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, que declinou receber, explicando que toda a vida recusara distinções oficiais e não poderia ir contra seus princípios. Recusara, também, uma medalha da Legião da Honra e uma cátedra no prestigiado Collège de France. Segundo ele, tais reconhecimentos o alienariam da sua liberdade de escritor, tornando-o uma instituição. Foi contra a Guerra do Vietnã; em 1966, participou da organização do tribunal Bertrand Russell, que expôs os crimes de guerra norte-americanos; envolveu-se nos protestos estudantis de Paris de 1968, apoiou a Revolução Cubana (só rompendo com Fidel Castro na década de 70) e o maoísmo. Permaneceu politicamente engajado até o final da vida, emprestando seu nome a movimentos de esquerda e organizando debates de intelectuais engajados.

Desde a década de 60 sua saúde deteriorava-se devido ao excesso de trabalho e ao consumo de álcool, tabaco e anfetaminas. A partir dos 67 anos, começou a ter problemas de visão e contratou um secretário, Bernard Lévy. No final da vida, interessou-se pelo conflito israelense-palestino: era a favor do estado de Israel, mas chamava atenção para as condições de vida dos palestinos, pregando a negociação pacífica. Embora tenha sempre recusado honrarias, em 1976 aceitou o título de doutor honoris causa da Universidade de Jerusalém. Ao morrer, em 15 de abril de 1980, de edema pulmonar, trabalhava em um grande ensaio sobre Flaubert, L’Idiot de la famille (O idiota da família). Mais de cinqüenta mil pessoas estiveram presentes no seu funeral.

Outras obras suas: L’imagination (A imaginação), 1936; La transcendence de l’égo (A transcendência do ego), 1937; Esquisse pour une théorie des émotions (Esboço para uma teoria das emoções), 1939; L’imaginaire (O imaginário) 1940; Refléxions sur la question juive (Reflexões sobre a questão judia), 1943; Morts sans sépulture (Mortos sem sepultura), 1946; La putain respectueuse (A prostituta respeitosa), 1946; Qu’est-ce que la littérature (O que é literatura?), 1947; Baudelaire, 1947; Situations (dez volumes de crítica literária, publicados de 1947 a 1976), Le diable et le bon dieu (1951), Les jeux sont faits (Os dados estão lançados), 1952; Saint Genet, actor et martyr (Saint Genet, ator e mártir), 1952; Les séquestrés d’Altona (Os seqüestrados de Altona),1959; Cahiers pour une morale (Cadernos para uma moral), 1983, e Les carnets de la drôle de guerre (Diário de uma guerra estranha), 1984.

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