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O tradutor de Dublinenses fala sobre tradução e James Joyce

26/07/2012

- Por L&PM Editores

Guilherme da Silva Braga é um tradutor pra lá de experiente. Só para a L&PM Editores ele já traduziu obras de Jack Kerouac, Conan Doyle, Anais Nïn, Emily Brontë, Joseph Conrad, Truman Capote, entre outros. É dele também a tradução de Dublinenses, de James Joyce. Aqui, Guilherme conta um pouco sobre essa experiência:  

L&PM: Como foi a experiência de traduzir James Joyce?
Guilherme Braga: Sem dúvida foi uma grande experiência, embora um pouco intimidadora em vista da enorme fama e em particular do enorme prestígio acadêmico do Joyce. Eu sabia desde o início que não estaria traduzindo apenas para leitores ocasionais, mas possivelmente também para estudantes de literatura, estudiosos de Joyce e estudiosos de tradução, então me cerquei de cuidados nessa empreitada e trabalhei ao mesmo tempo com três edições anotadas do livro. Apesar disso, não compartilho da ideia muito difundida na academia, e em particular no que diz respeito a autores que desfrutam de um status de semideus como o Joyce, de que para simplesmente ler a obra de um autor é necessário ler de antemão toda uma parafernália de materiais de apoio. Evidentemente isso é possível e pode ser muito interessante – mas em primeiro lugar o livro deve falar por si mesmo. Esse foi o aspecto que me norteou durante a tradução: eu quis acima de tudo escrever um texto fluido e agradável de ler como eu penso que seja o original do Joyce. Para quem mais tarde quiser estudar o livro com certeza não vai faltar material, mas com uma tradução sem notas nem explicações o leitor de primeira viagem pode se aventurar a ler o Dublinenses sem nenhum tipo de ideia formada por terceiros a respeito, como deve ser.

L&PM: Quais foram as maiores dificuldades nesse processo?
Guilherme Braga: Um grande dificultador foi o fato de eu nunca ter visitado Dublin. Os mapas nas edições anotadas, o Google Maps e fotos da cidade enviadas por um amigo me ajudaram, mas é claro que uma coisa não vale pela outra e o ideal seria conhecer a cidade. Fazer a tradução com métrica e rimas do longo poema no final em “Dia de hera no comitê” também deu bastante trabalho, mas fiquei muito satisfeito com o resultado.

L&PM: O que você considera mais marcante no estilo de Joyce neste livro?
Guilherme Braga: O minimalismo dos acontecimentos que movem as narrativas. São quase sempre acontecimentos muito pequenos e aparentemente triviais que funcionam como mote ou como resolução da narrativa. Isso está relacionado ao famoso conceito de “epifania” do Joyce: acontecimentos cotidianos que desencadeiam uma profunda transformação em quem os experimenta, ainda que pareçam insignificantes quando vistos de fora.

L&PM: Qual a sua passagem preferida do livro?
Guilherme Braga: Gosto muito de “Depois da corrida”, um conto vibrante e frenético em geral ignorado quando se fala sobre Dublinenses.